sábado, 18 de junho de 2011

A Experiência Estética




Conforme a biografia apresentada na obra Imaginação e criação na infância, Vigotski nasceu em 1896 em uma rica família judaica. Foi o segundo filho de uma família constituída por oito irmãos, estudou em casa sob a orientação de um professor particular até os 15 anos, depois frequentou o Ginásio Judaico de Gomel onde conclui sua graduação com distinção. O sistema de ingresso universitário – cujo sistema de cotas destinava apenas 3% das vagas para os judeus – modifica-se naquele período, as boas notas que outrora possibilitavam a entrada no universo acadêmico deixam de ser consideradas como fator de seleção que passa ser realizada por sorteio. Contemplado com uma das vagas, Vigostki estuda Direito na Universidade de Moscou enquanto, simultaneamente, estuda história e filosofia na Universidade Popular de Chanaiavski. Vigotski completa o curso de direito no mesmo ano em que acontece a Revolução Russa 1917. Em meio à efervescência ideológica predominante na época, Vigotski interessa-se por diferentes áreas do conhecimento humano embrenha-se em discussões políticas, literárias, psicológicas, etc. Sua desenvoltura cultural o permitiu atuar ativamente em diferentes áreas: foi professor, diretor teatral, crítico literário, etc.
Ao analisar os estudos literários realizados pelo formalismo russo, Vigotski afirma que essa metodologia propõe uma visão limitada do texto literário. Pois, ao desprezar a experiência estética produzida pelo texto, o formalismo russo desconsidera também o caráter social da obra responsável pela formação da consciência e do drama. “É o homem que cria, constrói o texto; e é ele que é afetado por essa criação. A reação estética condensa emoções contraditórias, que se resolvem na geração de novas emoções (VIGOTSKI, 2009, p.130)”. A partir de seus estudos literários sobre a importância da experiência estética o teórico assume o drama e a consciência como fatores essencialmente humanos, qualificando – a experiência estética – como indispensável para evolução dos estudos da psicologia. Segundo Vigotski, a psicologia precisa analisar os fatos da consciência sem considerá-los fenômenos de segunda ordem, mas como sendo um problema relacionado à estrutura do comportamento.
O social desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da teoria vigotskiana. O conceito do termo social assume diferentes concepções em cada momento de sua tese, sendo possível destacar algumas: no sentido mais geral (todo cultural é social), como sinal fora do organismo, como instrumento e como meio social – correspondentes a todas as funções superiores ou como os mecanismos compreendidos como social. O teórico alerta que o termo social até então relacionado às questões sociais do mundo natural, não permite explicar as formas de organização social que extrapolam o campo dos fenômenos naturais, como é o caso da situação social humana. Algumas das relações estabelecidas entre o social e o processo de desenvolvimento humano que, segundo vigotski, transcendem a mera explicação do social como pertencente ao mundo natural são:  a relação entre o social e o cultural, entre o social e o simbólico e entre o social e as funções mentais superiores. O fator social é tão valorizado por Vigotski que ao desenvolver a Lei genética geral do desenvolvimento cultural ele afirmará que toda função psicológica foi anteriormente uma relação entre duas pessoas, ou seja, um acontecimento social.
Para Vigotski, a compreensão de social está intrincada com o conceito de história que, por sua vez, pode ser admitido de duas formas distintas: a abordagem dialética das coisas – ou história dialética – e a experiência humana em relação ao tempo – ou materialismo histórico. A singularidade da mente humana está no fato de que os dois tipos de história (evolução + história) se fundem (síntese) nela. O mesmo vale para a psicologia da criança. A história pessoal (desenvolvimento cultural), sem deixar de ser obra da pessoa singular, faz parte da história humana.
[...] chegamos à conclusão de que a fala interior se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais e funcionais; que se separa da fala exterior das crianças ao mesmo tempo que ocorre a diferenciação das funções social e egocêntrica da fala; e, finalmente, que as estruturas da fala dominadas pela criança tornam-se estruturas básicas de seu pensamento[...] o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem. (VIGOTSKI, 2008, p. 63)
Os estudos vigotskianos a cerca da arte, mais precisamente sobre literatura, inauguram o foco de observação sobre interlocutor. O impacto que a obra literária produz no homem, compreendido pelo teórico como experiência estética, é a fonte do drama e da consciência. Compreendemos a partir da experiência artística descrita por Vigotski que a ciência demonstra, enquanto a arte mostra. Uma lei científica ou é válida em toda a parte ou não será científica. A expressão artística muda consoante quem exprime e o que há a exprimir, e, em milhares de pessoas que apreciem uma mesma obra de arte, não haverá duas que a sintam da mesma maneira. A arte é vista, portanto, como formadora de consciência por pertencer ao universo particular do indivíduo.