quarta-feira, 4 de maio de 2011

O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO


 
In:FREUD, Sigmund (1930). Obras Completas de Sigmund Freud. Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1980, Vol. XI p. 81-127.


                                                                                                                                          

Em “O mal-estar na civilização”, Freud, apresenta questões das mais variadas ordens: religiosas, comportamentais e sociais que tornam a vida do homem civilizado cada vez mais complexa, dificultando o tão sonhado desfecho: “Viveram felizes para sempre.” Ao questionar os padrões avaliativos dos homens o autor alega que comumente o ser civilizado valoriza fatores como poder, sucesso e riqueza, deixando de lado o que realmente é importante na vida. Sobre sua conclusão o autor reflete:
“No entanto, ao formular qualquer juízo geral desse tipo, corremos o risco de esquecer quão variados são o mundo humano e sua vida mental. Existem certos homens que não contam com a admiração de seus contemporâneos, embora a grandeza deles repouse em atributos e realizações completamente estranhos aos objetivos e aos ideais da multidão. Facilmente, poder-se-ia ficar inclinado a supor que, no final das contas, apenas uma minoria aprecia esses grandes homens, ao passo que a maioria pouco se importa com eles. Contudo, devido não só às discrepâncias existentes entre os pensamentos das pessoas e as suas ações, como também à diversidade de seus impulsos plenos de desejo, as coisas provavelmente não são tão simples assim” (FREUD, 1980. P.81).
“O que define o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer.” (FREUD, 1980. P.94)
“Somos feitos de modo a só podermos derivar prazer intenso de um contraste, e muito pouco de um determinado estado de coisas. Assim, nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição” (FREUD, 1980. P.95).
Estaria o homem civilizado fadado a fugir do sofrimento por ser obrigado a reprimir suas pulsões e impulsos primitivos para satisfazer a estrutura social em que se insere?
Quanto à necessidade religiosa no homem, Freud acredita que esteja ligada a uma fase primitiva do sentimento do ego.
“A derivação das necessidades religiosas, a partir do desamparo do bebê e do anseio pelo pai que aquela necessidade desperta, parece-me incontrovertível, desde que, em particular, o sentimento não seja simplesmente prolongado a partir dos dias da infância, mas permanentemente sustentado pelo medo do poder superior do Destino. Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a da proteção de um pai. Dessa maneira, o papel desempenhado pelo sentimento oceânico, que poderia buscar algo como a restauração do narcisismo ilimitado, é deslocado de um lugar em primeiro plano. A origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil” (FREUD, 1980. P.90).
“As religiões da humanidade devem ser classificadas entre os delírios de massa desse tipo. É necessário dizer que todo aquele que partilha um delírio jamais o reconhece como tal” (FREUD, 1980. P.100).

Considerando o comportamento religioso como sendo a manifestação da necessidade infantilizada do homem de ser protegido e Deus como representação de um pai benevolente e atento às necessidades de seus filhos, podemos dizer que o mesmo pai que ampara e protege é também aquele que cerceia, reprime e pune?  

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